Corpo em movimento, corpo em fluxo: Raios‐X, fotografia e representação do movimento humano na ciência do século XIX
- Detalhes
- Categoria de topo: RCL 39 _ Fotografia(s)
- Categoria: Contaminações
- Escrito por Warren Steele
No final do século XIX, a Europa Ocidental sofreu uma transformação dramática, transformação essa não só motivada pelos avanços nos campos da medicina e da construção de máquinas mas também pelas novas formas de ver que resultaram desses desenvolvimentos. Em Novembro de 1895, Wilhelm Röntgen alargou simultaneamente, com a sua descoberta dos raios-X, o campo da percepção humana e os limites da realidade. Uma descoberta tão revolucionária que não só refinou o olho ao permitir que os indivíduos observassem o seu próprio interior e o dos seres vivos, como, além disso, esteve na origem de um salto mental colectivo que levou a uma revolução no campo da arte, na medida em que revelou a existência de um mundo para além das capacidades visuais do olho nu. Apenas uma década antes, fotógrafos como Étienne-Jules Marey e Eadweard Muybridge haviam desenvolvido, de forma independente, os seus extensos e por vezes obsessivos estudos sobre o corpo em movimento, graças ao emergente meio da cronofotografia. Os seus trabalhos, ainda que marcadamente diferentes entre si no que respeita ao método, alargaram as mesmas fronteiras culturais, estéticas e médicas que o seu contemporâneo Dr. Röntgen. Ao fim e ao cabo, tendo a mecânica do corpo sido não só revelada como fotografada, os indivíduos tornaram-se simultaneamente formas naturais e não-naturais; uma colecção de peças biológicas reduzidas a simples traços, revelando as suas mais rudimentares e mecânicas funções. Quer os raios-X quer a cronofotografia produziram uma imagem do corpo no limiar do maquínico, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, forneciam uma imagem do eu no cúmulo do (sobre)natural.