Arte e espacialidade internalizada: Estratégias endógenas de sobrevivência
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- Categoria de topo: RCL 34-35 _ Espaços
- Categoria: Artes do espaço
- Escrito por Fernando José Pereira
A condição de totalização imposta pelo pansistema (ou o que se lhe quiser chamar) que, hoje, se difunde pela globalidade do planeta, torna equívoca qualquer abordagem que não tome em consideração a espacialidade internalizada a que se encontra sujeita. Pela primeira vez a crítica é possível, somente, em condições internas. A exterioridade necessária à emancipação encontra-se criogenizada. Pelo menos por agora.
Este texto propõe-se analisar as condições de transformação que tornaram possíveis tal estado de coisas, desde a tentativa de anulação da ideologia — o carácter generalizador do pós —, até à actual preponderância de um sistema sensológico de regulação: a mediacracia. A estratégia só pode ser explosiva, no sentido da fragmentação expansiva e arrasante, que reduz a existência a uma espécie de esquizofrenia social, emparedada temporalmente num presente sem passado e sem futuro, como tal, eterno.
Como se relaciona a arte em tais condições de domesticação? (o espaço é tornado doméstico a partir do seu controlo). A mediacracia gera, inevitavelmente, a media art, não uma arte dos media, antes, uma arte das cumplicidades. Mas produz, também, anticorpos que reafirmam estratégias de resistência; que têm de ser, obrigatoriamente, adequados à nova situação de interioridade e, como tal, longe das dualidades romantizadas da negação, mas conscientes da sua contingência. Como Bartleby, o herói anti-trágico de Melville, colocado numa zona intersticial entre os pólos da vontade e do dever, opta pela repetição exaustiva de um enigmático: preferia não fazer.
Entre o que queremos e o que devemos a opção passa, hoje, por aquilo que podemos.